segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A Filosofia no Ensino Médio: de mãos dadas com a maiêutica

Ronaldo Ronil

Fonte: http://users.hotlink.com.br/fico/refl0068.htm

Como filósofos e educadores devemos estar atentos aos mais diversos desafios, com os quais cotidianamente nos deparamos em sala de aula no contato direto e enriquecedor com a juventude. Cabe, portanto, estar bem conscientes das exigências do tempo presente e inquirir com força e sinceridade: quais atribuições da Filosofia, ou seja: para que serve a filosofia? Estamos, porventura, contribuindo e inspirando a juventude no desenvolvimento da capacidade crítica, na ampliação questionadora de sua visão de mundo, bem como, tornar um momento de prazer a aula de Filosofia viabilizando o raciocínio filosófico sem barreiras ao exercício sadio do conhecer em sintonia com o realizar.

A Lei no 9394/96 que estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional até os Parâmetros Curriculares Nacionais, definiu as atribuições do Ensino Médio, de forma que o educando após o término da referida fase do processo educacional seja capaz de demonstrar: " I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna; II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem; III - domínio dos conhecimentos de Filosofia e Sociologia necessárias ao exercício da cidadania."

A Filosofia no Ensino Médio é uma área de saber que, indiscutivelmente, colabora com o despertar das noções de Ética nas Relações Humanas, da consciência do ser cidadão na efetivação da prática consciente de sua cidadania. Entre as diversas possibilidades para a prática docente da Filosofia no Ensino Médio, é importante observar a necessidade de uma linguagem que instaure o modo de filosofar compatível com a problemática da juventude contemporânea. É urgente preocupar-se com o desenvolvimento das habilidades e talentos do alunado, os quais apresentam dificuldades e resistência ao conteúdo filosófico justamente pelas expressões distantes e aparentemente incompreensíveis e, até mesmo, beirando a inutilidade para o seu cotidiano dinâmico e inquieto. O modo de refletir a partir da crítica é próprio do jovem; daí a oportunidade chave para lançar-se as colunatas basilares do saber filosófico: fazendo notar as possibilidades, limites e riscos do saber humano; abordar e avaliar as conseqüências do conhecer e agir com relação a si mesmo, aos outros e a sociedade em geral; refletir sobre o papel pessoal e intransferível de cada ser no mundo. Os filósofos devem dar testemunho de suas próprias experiências perante o mundo filosófico: o êxtase da admiração, a questão que se nos apresenta incentivando a busca do saber e encontrando posteriormente o júbilo da resposta; a estética apaixonante da fundamentação e do rigor na elaboração de idéias e raciocínios. O aluno deve notar, caminhando com o exemplo e empenho apaixonado de seu professo, que nenhum conhecimento ou método filosófico está definitivamente terminado, ou seja, tudo supõe uma nova abordagem; daí que o percurso dialético e crítico é o grande sedutor ao ofertar trilhas oportunas ao aluno possibilitando-lhe descobrir o seu próprio valor, a riqueza do seu raciocínio e o poder construtivo da elaboração de idéias; a consciência de não aderir a modas sem o crivo do juízo crítico; desenvolvendo a capacidade de argumentação e contra-argumentação. A dialética socrática e o percurso maiêutico contido nos diálogos de Platão são, certamente, uma forma de método educacional-filosófico atraentes tanto ao docente quanto aos jovens, pois, potencializam o diálogo franco e aberto rejeitando o simples acúmulo de fatos, dados e históricos da filosofia. Basta empenho e sinceridade para que a maiêutica contemporânea torne-se realidade, precisamos perder o medo de convidar a juventude para Pensar, compreendendo para melhor conhecer. Faz-se inteligente aquele docente que, aberto criativamente ao universo do conhecimento, trabalha em uníssono com seus colegas na estruturação de um projeto profícuo de interdisciplinaridade. É preciso deixar claro que, se o conhecimento não estiver aliado e direcionado à vida de nada vale conhecer, aliás deve mesmo partir dela e do seu cotidiano e desafios.

É claro que, o fato de atravessarmos a ponte de nossa segurança e adentrarmos ao mundo jovem e desafiante, não exclui um compromisso com a transmissão da historia da filosofia propriamente dita; mas assumir novos procedimento trazendo à realidade da sala de aula os filósofos e seus conhecimentos para nos ajudar a resolver problemas, para sorvermos do viver e pensar de outrora pistas para o nosso próprio rumo. Eis o nosso desafio educacional: no alvoroço desnorteado da humanidade, caminhando sequiosa diante de um novo milênio visto como fonte de salvação e alvo de todas as esperanças, parece-me que o alerta de Lipmam precisa ser atentamente valorizado em sala de aula: "As crianças necessitam de narrativas repletas de idéias filosóficas (que os filósofos podem providenciar) em vez dos textos secundários, áridos ou superficiais (eu pareço me lembrar de alguém chamado Platão). Necessitam discussões amplas em sala de aula em vez de professores que falam sem parar. Necessitam da lógica formal e informal, da epistemologia, do pensar crítico, da ética, da estética e da metafísica, com a linguagem simplificada sem simplificar os problemas filosóficos"

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